Cheguei ao fim de um tunel e percebei que tudo continuou escuro. Doeu na espinha como se me tivesse atirado de um muro alto e tocasse o chão com as pernas bem esticadas. Com força, aquele impacto foi de tal forma forte e inesperado que estremeci. E nada ainda voltou ao normal, nada voltará ao normal desde então. Tudo mudou, a vida mudou. E ser aquele rapaz que se faz de forte e não mostra o que sente a ninguem, não ajuda em nada. Sorrisos com que me pronuncio muitas das vezes são tão falsos que chego a pensar que sou um mentiroso para comigo e para com quem me rodeia. Eu ja' estou habituado a tudo isto. Se bem que a culpa é apenas minha por arriscar caminhar num muro tão pequenino e inseguro: acabaria por cair, acabaria por ser grande o impacto, acabaria por me doer da mesma forma e com a mesma intensidade. Do lado de fora do muro, a vontade de subir era grande..vai aventureiro. e ele foi, sentiu aquela sensação de quem faz paraquedismo, um bichinho na barriga, um medo picuínhas antes do salto. Depois? Bem depois doeu - aquela sensação horrivel no fundo da barriga como quem leva uma pancada com a qual não esperava. Não previ, não sou o dono da bola de cristal. Mas gostava de ter aprendido a voar como a gaivota que tens em ti. Gosto muito de ti, e apenas isso faz com que eu me esforce para aceitar a tua decisão, mesmo não concordando com ela. O que quer que tu sintas, ou o que fazes e como fazes, se te fizer feliz estou certo que vale a pena. Se não te sentires bem revê a matéria, e lembra-te.. como diria nosso querido Raúl Solnado..
«façam o favor de serem felizes!»
e eu?
"
A miséria do meu ser,
Do ser que tenho a viver,
Tornou-se uma coisa vista.
Sou nesta vida um qualquer
Que roda fora da pista.
Ninguém conhece quem sou
Nem eu mesmo me conheço
E, se me conheço, esqueço,
Porque não vivo onde estou.
Rodo, e o meu rodar apresso.
É uma carreira invisível,
Salvo onde caio e sou visto,
Porque cair é sensível
Pelo ruído imprevisto...
Sou assim. Mas isto é crível?
"
[Fernando Pessoa]